segunda-feira, dezembro 19, 2005

Sobre Isolda e a solidão qeu ataca a moça do bordel

- Por que solidão, Isolda? Logo você, que nunca está sozinha...
- Porque os segundos se arrastam e eu penso mais no passado do que consigo levar. Eu olho para trás e não vejo mais a névoa. Enxergo a gama de possibilidades perdidas e a qualidade dos amores, palavras, gestos, que deixei. Me deixo encontrar num bordel todas as noites, e, me parece, me engano pela manhã lendo poemas de Cecília. Solidão? Queria mesmo era ser você ou Izolita, que são pura solidão. Porque nem para isso sirvo. Não grito, não corro, não derramo lágrimas. Não me perco, nem reclamo. Me encontro nos braços de quaisquer e no braço do amor intelectual. No fim, acho que queria mesmo era não só dividir fatos, como anda sendo minha vida com Marcelo. Creio que queira dividir felicidades e afetos. Minhas felicidades estão distantes das dele. Minha felicidade, muitas vezes, é só dirigir para casa quando ele tem ataques de cálculo renal. A dele seria ver o mundo outro, e me ver quem não sou. Sabe, Janaína, eu sou alguém inexplicável, embora sempre me considerem clareza. Meu nome é justiça, mas eu não faço juz ao meu nome. Eu deveria, ao menos hoje, ser solidão e gritar meu pranto.
- Isolda, você está gritando seu pranto. E, a meu ver, é justa. Por ser sincera.