sábado, junho 18, 2005

Na porta da casa de Pedro

Dê meia volta e vá embora, Izolita. A partir de hoje, seus bilhetes não mais decorarão minhas paredes.

sexta-feira, junho 17, 2005

Janaína e Isolda

Isolda conheceu Janaína em uma festa junina, dessas de igrejas. Isolda adora todas essas coisas místicas, essas festas bobas, esses lugares cheio de pessoas engraçadas. Adora a simplicidade de festas juninas de igrejas. Freqüenta todas.
Em uma delas, esbarrou com Janaína, quando ela ainda era uma menina feliz. Janaína estava acompanhada com o menino da rodoviária, um garoto branco, com olheiras fundas, barba por fazer. Garoto com cara de poeta. Isolda estava sozinha. Tinha mania de ir a festas sozinha, para não ser incomoda ao reparar todas as pessoas que passavam a sua frente. Isolda topou com Janaína na fila do caixa, enquanto ambas esperavam para comprar fichas para tomar um vinho ruim. Isolda toma todas essas coisas que considera simples, em festas simples. Janaína bebe pelo prazer de beber qualquer coisa que tenha um gosto doce. Janaína e Isolda adoram luzes, noite e vinho tinto. Nesta noite, foi por mero acaso que começaram a se falar. Janaína esbarrou em Isolda, que esbarrou no garoto da rodovidária. Todos sorriram. Desde este dia, Isolda e Janaína reconheceram-se no sorriso uma da outra. E Janaína percebeu que Isolda era uma cara conhecida... depois soube que era irmã de Izolita.
Isolda e Janaína dividiram seus sonhos e amores e poemas durante muito tempo. Até a solidão tragar Janaína para o fim do mundo. Depois que o garoto da rodoviária se foi, Janaína ficou irreconhecível. Parou de escrever, de comer, de dormir, de beber. Não ia mais à festas, não aparecia na casa de Izolita ou Isolda. Começou a frequentar rodas de samba com uma tal Vírginia, menina com sua subjetividade massacrada pelo amor. Isolda, no mesmo dia em que Janaína conheceu a desgraça, encontrou seu amor, e casou-se em uma semana. Janaína não apareceu na festa, mas mandou-lhe de presente uma caixa, bem decorada, feita com as próprias mãos, repleta de fotos de Isolda decorando-a. Dentro da caixa, na tampa, estava escrito na letra mais bonita que Isolda já viu: "Esta caixa serve para guardar os bons momentos. Se você sentir-se triste, o que sei que nunca vai acontecer, meu bem, abra a tampa, e deixe que os ares da felicidade invadam o quarto de vocês. Amo-te para sempre. Janaína"
Pela primeira vez na vida, Isolda chorou de felicidade e tristeza. Sabia que em algum lugar Janaína tinha guardado uma caixa com as boas lembranças, mas que jamais poderia abrir a tampa, porque tinha deixado na casa do garoto de olhos fundos. Ao mesmo tempo, soube que a inteção de Janaína era de que a felicidade não acabasse, porque o quarto não seria separado pelo erro. Isolda soube, neste dia, que as duas ela e Janaína seriam assim, bonitas poesias, para sempre.

quarta-feira, junho 15, 2005

Arrumando

Estou arrumando os posts, que estão, momentaneamente, com os acentos errados.

terça-feira, junho 07, 2005

Janaína e Izolita

São subjetividades perdidas em meio a bruma densa da solidão.

Izolita consola-se consigo mesma.
Janaína consola-se com bilhetes vazios e beijos sem sentido do amor de outrora.

As duas, Janaí­na e Izolita, são umas bobas.

quarta-feira, junho 01, 2005

Calamidade

Era uma noite quente quando Calamidade caiu numa cidadezinha sem nome. Lavou o sangue na fonte principal, terminando de se livrar das asas que insistiam em extirpar-se das costas, depois tombara no meio da praça, exausta. Acordara no prostí­bulo, mais tarde descobriria ter sido salva por Susane, uma loira de vultuosos cachos e olhos sempre inchados. Calamidade gostava de Billie Holliday, tinha cabelos negros, olhos negros, pele negra e pés finos que logo se endureceram de caminhar. Pediu vestes vermelhas porque só vestia vermelho. Calamidade cai­ra no gosto das moças e passara a viver com elas, em pouco tempo, recusando a prostituir-se, expulsou o cafetão e tomou conta do lugar, pois era treinada em estranhas artes do oriente. Daquele dia em diante, a vida era só júbilo para as prostitutas, escolhiam os clientes, faziam festas todas as semanas. Os homens não gostavam de Calamidade, porque ela era bela e não a podiam ter, porque desde o dia em que aterrissara as mulheres pensavam com as próprias pernas. E a pequena cidade teve medo de não aparecer no mapa e abrigar uma coisa daquelas. Num dia de verão, Calamidade se apaixonou por um médico da capital, e em todos os dias ensolarados e frescos que se seguiriam seria possi­vel ouví­-la dizer: "foi num dia assim que eu morri". Ela queria voltar para o céu e levaria Susane consigo, porque Susane era só, e o céu deveria ser o lugar de todas as pessoas tristes. Os dias se passavam, o prefeito de bigodes largos, os donos de armazém, as madames de famí­lia, as crianças de suspensórios, suspensórios! Pouco havia de tão absurdo na vida quanto suspensórios. Calamidade sempre a dizer cante, Susane, que não suporto mais o peso do silêncio; e a outra a balbuciar melodias sórdidas que aprendera ninguém sabe onde, os olhos cada dia mais inchados, tamanha dor num par jamais se viu! Pobre Calamidade, vivendo no tédio perguntava-se porque havia sido expulsa do paraí­so e chorava lágrimas de querosene que acabaram por incendiar a cidade. Nesse dia, Susane riu pela primeira vez, e as gargalhadas ecoaram pelos quatro cantos que o universo não tinha, e até deus estremeceu, matando-a para que fosse adorada por povos vindouros. Quanto à  Calamidade, diz-se que continua vagando e que há de continuar se apaixonando por pessoas de olhos tristes.