quinta-feira, setembro 25, 2008

das cartas esquecidas atrás do armário

é que você, janaína,
mantém essa ingenuidade adolescente,
ao achar que se você pensar muito forte
realmente forte


ele ligará no dia seguinte.




e você sabe, querida, que tudo isso não passa de uma bela mentira.

.izolita

quinta-feira, abril 24, 2008

o passado-presente-futuro

Isolda,
é a dor que eu tenho que se rebela e me sufoca: eu grito, grito, grito, vomito. e a cada uma dessas tentativas frustradas que me vejo entre a parede e o espelho; lá nada me encontra, mas eu também encontro nada.



e é no vazio das palavras que me renovo.


Izolita

sábado, dezembro 09, 2006

Das dores

- Às vezes ele fala bobagens. Bobagens mesmo, daquelas que fazem a gente achar que uma pessoa é boba. Mas eu não me importo, sabe, eu não me importo de fazer bobagens se for para ele ficar feliz. Eu hoje entendo que às vezes as pessoas precisam ser bobas para serem felizes.
Virgínia estava diferente, foi o que Vicente pensou, sem saber ao certo como. Já não era mar revolto, achou.
- Mas como é que pode isso, Virgínia?
- Eu não sei, meu bem. - tocou com a palma da mão o rosto de Vicente.
Meu bem. Virgínia sempre chamava a todos de meu bem, e isso doía de lembrar. Vicente achava que era sempre desajeitado encontrar a quem já se amou. Será que um dia conseguiria olha-la sem lembrar das mãos nos seios? Virgínia era outra, sorriu para ela, assim meio melancólico. Era como se Virgínia tivesse dado um passo a frente e não fosse mais possível voltar, como quando desmorona o mundo. Disso todo mundo entende. Era essa a imagem que ela fazia lembrar, uma garota de costas para um precipício, com medo de andar. Quis abraça-la. Botou as mãos no bolso.
- Você tá diferente.
Ela olhou Vicente, a barba cerrada, o jeans velho e os tênis que ele havia comprado quando os sapatos de marfim quebraram.
- Doeu - ela disse.
- O quê?
- Os tênis.
- Pesam menos.
- Doeu. Quando os sapatos que lhe dei quebraram, quando disse não a Adriano, quando Vítor foi simples. Doeu, tudo doeu.
Vicente quis chorar e dizer ainda dói Virgínia. Na sua mania de nomear as coisas, acabou virando nome.
- É. Acho que é assim mesmo.

quinta-feira, julho 13, 2006

sobre o traiçoeiro

Janaína,
é que eu caí em um amor-armadilha. Dessas das quais é impossível se desvenciliar sem perder os pés ou, ao menos, sem sair rasgada, com a pele dilacerada e o peito aberto, encharcado em sangue.
Eu caí numa armadilha perigosa e cruel. Diria até: sem volta. Amor-rede que sufoca os frutos que carrega. Amor-armadilha de ursos, que poda o movimento. Eu caí, Janaína. Numa aberração.
E você sabe, querida, que a minha cama só é preenchida pelos vazios que se formam de minhas escolhas constantes pela solidão. Eu quero assim: sem ter que me ater em uma teia de aranha firme, que não me deixe passar para o outro lado.
Porém, foi nesta que eu me enrosquei. E tive que perder o carinho, o contato, tive que negar amar e não entregar meus sonhos para não cair nas garras dos insetos. Tive que fugir da possibilidade da companhia na noite fria - para não ser devorada pelos caçadores.


Janína, eu caí numa armadilha de um coração que não é o meu. Em um jogo de outrem que me exclui possibilidades da felicidade para todos.
O que é que eu fui fazer, Janaína? Por que é que fui ceder?

quinta-feira, junho 01, 2006

Nota na porta de Adriano

Sabe, eu não penso em termos de certo ou errado. Adriano, eu não quero chorar sempre as mesmas lágrimas, recuso-me, veja bem, a reviver a minha vida. Então perdoe-me se não me interesso por você, é que te vejo enfadonho por repetição, ainda que seja outro.

Virgínia

terça-feira, maio 09, 2006

Gosto

Sentiu o amargo escorrer-lhe pela garganta dolorida do vômito causado pela bebedeira. O gosto ríspido e hostil que lhe dizia: você já não é mais a mesma. Não é nova, entretanto, não está velha. Não é a juventude encarnada, e já não consegue ir à noitadas e estar em pé às seis da manhã. Não é mais beleza ou sorriso. O gosto lhe dizia: você já não é o que foi, menina. Não é simpatia ou brilho nos olhos. Não tem a inocência apaixonante das adolescentes. Não tem a inteligência ingênua da infância. Não se entrega mais a qualquer abismo.

O amargo desceu pela garganta e chegou ao estômago. O gosto transforma-se no som da lágrima: eu já não sou mais paixão, repetia, repetia, repetia.

[Janaína, com seu gosto amargo da noite, levantou-se, lavou o rosto e viu em si o que se negou por muito tempo: a paixão é para aqueles que sabem assim viver. E ela já não sabia entregar-se à dor].

segunda-feira, abril 03, 2006

Aperto

Senti um aperto no peito, será paixão? Virgínia diria que não. Saiwalô diria gosto de você e mergulharia. Calamidade se guardaria ao silêncio e arranjaria algum outro que amor que a distraísse até que a dor se tornasse insuportável. Eu, não sei quem escolho, provavelmente Amanda, que nunca se sente aconchegar e sofre um eterno apertar de peito, que quer um eterno amor de Adriana. E Adriana, ah sim, ela sim é amor.

(http://straccio.blogspot.com/2005_09_18_straccio_archive.html)