sexta-feira, maio 27, 2005

Izolita

- Não precisa passar minha roupa. Eu já tou de saí­da.
_ Mas vai trabalhar com a roupa assim, amarrotada?
- Passo em casa antes. Não se dê o trabalho. Não quero que passe.
Izolita sempre travava essa mesma discussão com Pedro. E ele teimava em querer agradá-la com essas coisas do cotidiano, que para ela, não faziam sentido.
Pegou a saia amarrotada das mãos de Pedro, vestiu-se, abotoou os botões da camisa branca, calçou seu tênis vermelho. Esperou Pedro entrar no banheiro, deixou um bilhete em cima da escrivaninha e foi-se embora. Izolita fazia esse ritual todas as vezes que dormia na casa de Pedro, esperando ser a última vez. Ele, já acostumado, nem ia mais atrás, embora tivesse medo que de fato fosse a última vez a vê-la. Pedro abriu o bilhete, e dessa vez, diferente dos outros, dizia: "Obrigada!". Até então, todos os outros bilhetes eram: "Até algum dia. A ente se esbarra." O "obrigada" soou, para ele, um tanto melhor. Pedro se questionou então, se Izolita estava mudando.Mas logo parou de pensar.
Izolita seguiu seu rumo. Pegou a chave do carro na bolsa - raramente andava de carro, só quando ia ver Pedro -, olhou para a janela de Pedro, viu que a cortina ainda estava fechada, abriu a porta, entrou no carro, deu a partida, e foi-se embora. sabia que não o veria por meses, e que receberia milhares de cartas dele. Mas não o respondia nunca. No máximo, um bilhete enviado pelas mãos de algum conehcido em comum. Pedro sempre dizia que a amava. Ela respondia que isso era bobagem. Que não havia amor entre eles, só uma profunda amizade. "More comigo uma semana, vamos ver no que dá". "Não, não. Não tenho vontade. Não tenho esse querer integral, Pedro. Já disse. Você me ama, eu não amo você."