sexta-feira, junho 17, 2005

Janaína e Isolda

Isolda conheceu Janaína em uma festa junina, dessas de igrejas. Isolda adora todas essas coisas místicas, essas festas bobas, esses lugares cheio de pessoas engraçadas. Adora a simplicidade de festas juninas de igrejas. Freqüenta todas.
Em uma delas, esbarrou com Janaína, quando ela ainda era uma menina feliz. Janaína estava acompanhada com o menino da rodoviária, um garoto branco, com olheiras fundas, barba por fazer. Garoto com cara de poeta. Isolda estava sozinha. Tinha mania de ir a festas sozinha, para não ser incomoda ao reparar todas as pessoas que passavam a sua frente. Isolda topou com Janaína na fila do caixa, enquanto ambas esperavam para comprar fichas para tomar um vinho ruim. Isolda toma todas essas coisas que considera simples, em festas simples. Janaína bebe pelo prazer de beber qualquer coisa que tenha um gosto doce. Janaína e Isolda adoram luzes, noite e vinho tinto. Nesta noite, foi por mero acaso que começaram a se falar. Janaína esbarrou em Isolda, que esbarrou no garoto da rodovidária. Todos sorriram. Desde este dia, Isolda e Janaína reconheceram-se no sorriso uma da outra. E Janaína percebeu que Isolda era uma cara conhecida... depois soube que era irmã de Izolita.
Isolda e Janaína dividiram seus sonhos e amores e poemas durante muito tempo. Até a solidão tragar Janaína para o fim do mundo. Depois que o garoto da rodoviária se foi, Janaína ficou irreconhecível. Parou de escrever, de comer, de dormir, de beber. Não ia mais à festas, não aparecia na casa de Izolita ou Isolda. Começou a frequentar rodas de samba com uma tal Vírginia, menina com sua subjetividade massacrada pelo amor. Isolda, no mesmo dia em que Janaína conheceu a desgraça, encontrou seu amor, e casou-se em uma semana. Janaína não apareceu na festa, mas mandou-lhe de presente uma caixa, bem decorada, feita com as próprias mãos, repleta de fotos de Isolda decorando-a. Dentro da caixa, na tampa, estava escrito na letra mais bonita que Isolda já viu: "Esta caixa serve para guardar os bons momentos. Se você sentir-se triste, o que sei que nunca vai acontecer, meu bem, abra a tampa, e deixe que os ares da felicidade invadam o quarto de vocês. Amo-te para sempre. Janaína"
Pela primeira vez na vida, Isolda chorou de felicidade e tristeza. Sabia que em algum lugar Janaína tinha guardado uma caixa com as boas lembranças, mas que jamais poderia abrir a tampa, porque tinha deixado na casa do garoto de olhos fundos. Ao mesmo tempo, soube que a inteção de Janaína era de que a felicidade não acabasse, porque o quarto não seria separado pelo erro. Isolda soube, neste dia, que as duas ela e Janaína seriam assim, bonitas poesias, para sempre.