segunda-feira, julho 11, 2005

Do desamor

Foi-se embora aquele dia com um rombo no peito. Nunca tinha sido tão machucada em qualquer tempo, por qualquer amor. E, embora mantivesse quente as lembranças boas da cama do garoto da rodoviária, Janaína ergueu-se e decidiu que aquilo já era passado e que remoê-lo só trazia dor a ela mesma. Não havia o que fazer, já que o garoto tinha escolhido não só desamá-la, mas expulsá-la de sua vida. Janaína, que antes culpava-se pelo fim dos sonhos, viu claramente diante de si que a culpa não era dela. E que se as coisas não voltavam, não fazia mal. Agora, era ela que abandonava de corpo e alma aquele carinho. Desfez-se de todas as roupas velhas e dos lençóis comprados a dois, e torceu para que ele guardasse consigo os cds de jazz que ela havia com tanto gosto selecionado. Sentiu-se boba por saber que o fim estava já descrito nas estrelas e perseguiu seu futuro mais próximo. Sentou e chorou as últimas lágrimas daquele amor que, aos poucos, tornava-se desamor. Tornava-se desgosto. E Janaína que havia relutado coma dor para que não se virasse desgosto, sabia que não havia mais volta. Pediu para esquecê-lo, foi grosso, disse que já não havia amor. Pois, agora, de fato, não havia amor ou volta.
Janaína, aos poucos, desistia da dor e tranformava-se em alento para seu próprio peito.

Guilherme, o garoto da rodoviária, já não existia.
E era assim que Vírginia deveria agir.