segunda-feira, setembro 19, 2005

Cidade-violeta

Isolda chegou mais cedo àquela cidade ensolarada. Passou no armazém, encontrou Vinicius, um antigo conhecido, novo amor de Janaína, e pediu a ele que trouxesse a ela o melhor vinho tinto que tivesse guardado.

- Vejo que você vai, novamente, correr por aventuras com Saiwalô. A vi passar por aqui essa semana. Disse-me que iriam se encontrar.

- É. Há anos não vejo Saiwalô. A última vez foi memorável e precisamos repetir. A época primaverial ajuda, faz tudo mais bonito. Passar as tardes em alto mar, com esse sol bonito...

- Ten notícia de Janaína? Não a vejo há muito. Fiquei sabendo que voltou para o caixão.

- Janaína se despedaçou, meu bem. Recolhe, em algum canto, seus pedaços. No ar, na terra e na água, em todos os lugares. Recolhe e cola seus pedaços com as lágrimas que você causou.

- Me sinto mal. Janaína é uma garota especial.

- Agora, Vinicius, já não adianta lamentar. O que está feito, assim está. No futuro, resta a nós contornar nossos erros. Mas, não se preocupe. janaína, ao enclausurar-se naquele caixão, só sai quando vale a pena. Ela morre tantas vezes por ano quanto é possível. Ela morre e se refaz. Ressurge, após um tempo, com nova vida.

Apanhou a garrafa de vinho... - Esta é de presente. Diga um alô a Saiwalô. Ela é bastante bonita. Não sei porque nunca atraca em nenhum porto. Ah! E leve este bilhete à Janaína?

Isolda saiu do armazém, que tinha portas e janelas de madeira de cor escura, prateleiras bonitas e bem arrumadas, com um sorriso no rosto. - Sabe, Vinicius, Janaína não gostará de receber bilhetes seus depois de tanto tempo. Entregarei do mesmo jeito. Quanto à Saiwalô.. a vida dela é de vários portos. Ela se atraca em pessoas e corações, não em lugares. Encontrá-la é viver a liberdade.

Passou pela porta e ventou. O vento fez tremer seus vestido florido e levou seu chapéu com uma fita amarrada formando um laço ao lado. Para sua surpresa, quem o segurou foi Rafael. Entregou-lhe o chapéu: as flores de seu vestido são muito bonitas. - São violetas. - Ah!, sim. Vejo que encontrará Saiwalô. Ela também veste um vestido com violetas. Para combinar com as flores da cidade.

A cidade toda tinha violetas roxas nas janelas das casas.