terça-feira, outubro 18, 2005

Desejo

Virgínia pensou em estar do lado dele e se sentiu correspondida pela primeira vez em todas. Era um amor além -mar, pensou em Calamidade. Amor? Quis se rir, quis que fosse mesmo, mas não era, vai saber, quis que fosse um dia, e se pôs a chorar.
Am I cursed or am I blessed?
Ela pensou.
Quis estar ao lado de Marcelo, por algum motivo idiota que a fazia sentir como adolescente de novo. Oras, sabia que não era nada disso, mas desejava, no íntimo, que fosse. Sabia ser besteira, Virgínia já havia visto, vivido e feito de tudo neste seu mundo urbano. Mas desejou. Virgínia queria se chamar desejo, porque desejar era tudo o que fazia o tempo inteiro. Sentia-se só, achou que se estivesse lá não se sentiria. Não porque acreditava nisso, mas porque desejava que fosse assim. Dormiria abraçada, ou sequer dormiria. Ligou:
- Izolita?
- Eu.
- Te acordei?
- Um pouco.
- Desculpe.
- Não tem nada. Fale.
- Nada, queria tomar umas cervejas contigo.
- Agora?
- Agora.
- Por quê?
- Porque somos solidão.
Sentaram-se na mesa, e Izolita, ao invés de saudação, disse:
- Você não é solidão, Virginía, é distância.