segunda-feira, outubro 03, 2005

sobre a decepção

Izolita entrou, uma vez, em uma igreja. Dessas pequenas, singelas. O padre falava para seis pessoas. Ele a olhou com uma cara simpática. Izolita parecia conhecida, mas não sabia onde tinha visto aquela garota esguia, pálida e de olhos fundos e tristes. Izolita escutou todo o sermão, sobre qualquer coisa que Jesus havia feito de milagroso. Cinco pessoas choraram. A outra não se comoveu. Izolita não se comovia nunca com Deus.

Ao levantar-se para ir embora, o padre foi atrás dela, segurou-a pelo braço: O que te aflige? Nunca te vi nesta paróquia.

Nada me aflige, padre. Nada que Deus resolva. Entretanto, sua voz é bonita. Lembro-me dela desde a escola. Você sempre era o orador. Nunca entendi porque virou padre.

Quem é você?

Izolita.

E o padre, então, chorou. E a cena nítida veio à cabeça: garota bonita, pulsos cortados no banheiro. "Nunca pensei que você tivesse sobrevivido."

Se você acreditasse em Deus, talvez dissesse que Ele me salvou. Eu acredito que fui burra o suficiente para cortar errado. Mas isso não importa. Não importa. Gosto da sua voz. Por isso venho.

Izolita deu um passo para frente, segurou a mão do padre. Queria amar você, porque você tem olhos fundos. E se foi.

2 Comments:

Blogger Patr�cia said...

Lindo. Tô chorando sozinha na magrugada depois dessa.

2:24 AM  
Anonymous Anônimo said...

=D
legal moça!!!

4:21 PM  

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