quarta-feira, outubro 05, 2005

Vicente (dos amores passados de Virgínia)

Exausto, abri os olhos e senti os pés. Ah, mas ela me havia dado sapatos de marfim: pesados, duros, alvos. Virgínia, a cada instante sinto que te perco e eu não quero perder, esta distância é o que me mata. Vai ver a culpa é mesmo minha, sou quem que nos afasta, quantas vezes não ouvi "Vicente, Vicente, seu problema é que você ama demais, e esse amor ninguém pode devolver". Mas não é esse o propósito do mundo? A essência das coisas? Talvez eu seja piegas, é que assim tudo pesa menos. Ela parece uma moça do interior, mas não me engana. Virgínia, você não me engana com estes vestidos de chita, tem olhos de quem já viveu demais. Ela disse que me amaria e amou mesmo, em todas as posições, pensamentos, temores. Virgínia de vestido branco na praia, os seios fartos debaixo do decote, pobre Virgínia, como te amo! Estes são instantes de solidão, como é que a gente pede perdão por querer invadir assim a vida de alguém, em cada fresta, cada curva? Ai, é que não consigo dormir sem seus braços, minha vida não me basta, se pudesse respiraria seus pulmões. E Virgínia não me precisa, se a distância for longa ela vai perceber, e isso não pode, meu eu dilacerado já não tem conserto. Acabou, por mais que nos amemos estaremos sempre sozinhos, nem sei por que, mania. Queria ser dessas pessoas que estão sempre bem, acho que nasci para o drama, estou tão cansado, meu amor, tão cansado de te ter sem te ter. Exausto, fechei os olhos para prender o nome que queria gritar, Virgínia!, quebraram-se os meus sapatos de marfim.