Janaína arrumava e desarrumava sua caixa de lembranças. Jogava tudo no chaõ, olhava bilhete por bilhete, carta po carta, foto por foto. E, colocando uma por uma de volta à caixa, meticulosamente, se sentia esvaindo pelos poros.
Izolita tomava uma bela caneca de café com tequila. Com seus olhos fundos, observava Janaína à luz fraca do abajur que ela tinha ao lado da cama.
- Izolita, por que você sempre me deixa bilhetes em papéis rosas? Todas as suas cartas e bilhetes e papéis pequenos, lembretes, todos são em papéis rosas. Nunca vi alguém com tal persistência em comprar bloquinhos dessa cor.
- Só assim você não precisará ler meu nome para saber que sou eu. Algum dia, vai dizer, você fique míope ou tenha astigmatismo, e não leia mais. Saberá, pela cor, mesmo que deesbotada, que eu estive aí, junto com você. Dentro dessa caixa, ou na porta, que nada esteja escrito: ainda assim serei eu.
- Mesmo que eu fique cega, saberei ao toque o que é você em mim e o que sou eu em você.
- Não se preocupe coma cegueira. Passarei a usar perfume para as cartas. E assim, dois dos nossos sentidos saberão que estivemos juntas, ao menos nos bilhetes e nos lembretes.
Aí, Izolita pegou sua bolsa preta que estava pendurada na cabeceira da cama ded Janaína e se despediram com um beijo na testa.
- Izolita! Você ainda é solidão?
- Não, não. Hoje, eu sou só dor.