sábado, janeiro 07, 2006

Simples

Virgínia conheceu um moço de cabelos curtos numa esquina qualquer e trocou beijos. Seu nome era Vítor. Vítor e Virgínia trocavam cartas toda semana, e Virgínia as recebia com um sorriso nos lábios. Um dia, ela foi visitá-lo, e isso se repetiu dia após dia, transformando a casualidade de Virgínia em um hábito frequente. Virgínia vez ou outra esquecia pequenas coisas na casa de Vítor, um lápis de olho, um adorno de lábios, uma roupa íntima. Virgínia viveu semanas na casa de Vítor, deixando seu apartamento jogado às aranhas de Daniel, e embora achasse isso belo, era algo que muito a incomodava. Foi-se embora, mas as cartas continuaram. Estranhamente, surgiu-lhe a falta, era a primeira vez que Virgínia sentia falta de alguém que não fosse Adriano. Um mês depois, ela voltou à casa de Vítor e, num abraço desnudo, disse-lhe que havia gostado dele. Vítor disse que estar ao seu lado o divertia, e seus corpos se entrelaçaram. No fim da tarde, Virgínia acordou e dessa vez não esqueceu um vestido saindo com as roupas de outrem. Catou minuciosamente todas as suas coisas que se escondiam abandonadas pelos cantos, tomada por um metodismo excepcional, estranho à sua frequente distração. Colocou as coisas na bolsa, calçou os sapatos e deu beijos apaixonados, que não eram dados senão em Adriano, em Vítor. Despediu-se, desejou-lhe boa sorte. Ele disse até logo. Virgínia fechou a porta atrás de si diposta a não mais abrí-la, disposta a responder secamente as cartas que porventura viessem. Vítor era uma pessoa simples, exatamente como Virgínia desejava. Mas Virgínia desejava alguém que simplesmente a amasse em toda a sua complexidade, e Vítor estava simplesmente interessado na sensação táctil dos corpos. Vítor foi a pessoa mais sincera que Virgínia já conhecera.